A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga maus-tratos a animais no Espírito Santo vai solicitar à Polícia Civil (PCES) de Linhares as imagens completas do episódio envolvendo uma cadela atingida por golpes de canivete na cidade.
Essas imagens poderão esclarecer se realmente o autor dos golpes de canivete, que prestou depoimento à CPI em maio, agiu para defender um cão pinscher supostamente atacado por outra cachorra que estava solta na rua.
Ana Paula Selestrine, tutora do animal ferido, negou ter presenciado a cena de violência. Ela afirmou que o fato ocorreu depois que a cachorra havia fugido de casa, saindo por uma fresta aberta no portão. Também relatou ter procurado a cachorra por várias ruas do bairro onde mora em Linhares, mas não a encontrou.
Conforme disse, só depois de um tempo ficou sabendo que o animal havia sido acolhido por uma protetora, que o levou para tratamento numa clínica veterinária e que o mesmo se recuperava bem dos ferimentos, apesar de ter ficado com sequelas em uma das patas.
Vídeo
Ao responder perguntas feitas pela presidente do colegiado, a deputada Janete de Sá (PSB), Selestrine acabou contando que a escrivã que colheu o depoimento dela na delegacia de polícia em Linhares mostrou um vídeo em que aparecem as cenas da cadela sendo esfaqueada.
No entanto, contou que na parte mostrada pela escrivã não aparece o que aconteceu antes dos golpes. Essa lacuna precisa ser explicada para se saber se realmente a cadela atacou o pinscher, o que teria levado o agressor a usar o canivete para defender o seu cão.
Janete supõe que o vídeo não foi mostrado em sua versão completa, o que pode ter omitido a parte que ainda falta esclarecer. A parlamentar estranhou no momento da oitiva quando a depoente quis saber se na hipótese de um pedido de desculpas tanto da parte dela (Ana Paula) como do acusado de desferir os golpes de canivete “a história poderia ser encerrada”.
Medo
A deputada questionou o porquê da pergunta e se a depoente se sentia culpada por algum fato relacionado ao caso, momento em que ela respondeu apenas que estava “com muito medo”.
Indagada sobre o motivo do medo, ela afirmou que não sabia se era “coisa da cabeça dela”, mas que um carro havia passado em frente a casa dela e depois deu ré ficando perto da entrada da casa onde reside.
Janete perguntou várias vezes à depoente durante a audiência se ela estava sendo ameaçada por alguém devido ao caso e ressaltou que estava percebendo que Ana Paula demonstrava ansiedade e preocupação.
Diante das negativas sobre a suposta pressão, a deputada chegou a advertir que seria bom que toda a verdade fosse dita porque já teria tido conhecimento de que o padrasto do homem que agrediu a cadela estava ameaçando a protetora que levou o animal para a clínica veterinária.
Laudo
A presidente da CPI informou que recebeu um laudo assinado por um veterinário que atesta que o cão pinscher supostamente atacado havia sofrido escoriações.
Ela observou que, no entanto, não acompanham o laudo imagens nem exames que possam atestar essas supostas agressões físicas, o que levará a CPI a encaminhar ofício ao especialista pedindo tais documentos.
O titular da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente, Eduardo Passamani, solicitou à CPI levantar outras possibilidades de imagens que possam ter registrado a cena completa, entre elas, de câmeras instaladas em rua ou estabelecimento próximo do local onde o fato aconteceu. Ele pediu ainda a busca de testemunhas que tenham presenciado o episódio.
Além dos citados, participaram do encontro a presidente da Comissão Especial de Proteção e Defesa dos Animais da OAB/ES Marcella Rios Gavan Furlan, a presidente da Sociedade Protetora dos Animais do Espírito Santo (Sopaes) Regina Mazzoco, o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-ES) Rodolpho Barros, a procuradora de Justiça do Miinistério Público estadual (MPES) Edwiges Dias e o deputado estadual Alexandre Xambinho (PSC), relator da CPI.
Foto: JV Andrade