Cooperativas capixabas estimulam geração de empregos no Estado
Ívna Ferreira
Em meio ao pessimismo diante da grave crise econômica nacional, as cooperativas vêm mantendo os investimentos no setor, abrindo novas vagas e dinamizando a economia local
A frase de que “a crise é o melhor momento para se investir e ter bons resultados” deixou de ser um mero lugar-comum para ganhar efeito prático em terras capixabas. Diante do cenário nada otimista,
onde empresas dos mais variados segmentos e de todos os portes vêm cortando investimentos, principalmente com a demissão da mão de obra, o setor cooperativista continua investindo pesado, criando um efeito multiplicador que mantém o fôlego da economia local.
O plano estratégico das cooperativas do Espírito Santo tem se sobressaído à crise que afeta a economia brasileira. O setor segue inaugurando novas unidades em várias partes do Estado, inclusive, em outras regiões, o que propicia a criação de novas vagas, movimentando os bancos das empresas de recursos humanos e das próprias cooperativas. Atualmente, segundo o Sistema OCB-SESCOOP/ES, as 138 cooperativas capixabas contam com o quadro de 7.913 colaboradores.
Do início de 2015 até o momento, a Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi) inaugurou quatro unidades, sendo três filiais – João Neiva (ES), Barra de São Francisco (ES) e Inhapim (MG) – e a primeira etapa do Complexo Logístico, em Ibiraçu. Além disso, incorporou-se a sua coirmã, a Cooperativa dos Cafeicultores das Montanhas do Espírito Santo (Pronova), em Venda Nova do Imigrante.
Até o final do ano, a cooperativa prevê a inauguração de mais uma unidade de armazenamento de café em Vila Valério (ES). Para inaugurar todas estas unidades, a Coopeavi investiu, aproximadamente, R$ 23 milhões no agronegócio capixaba, em 2015. De acordo com a Coopeavi, a cooperativa viveu nos últimos anos um grande crescimento em faturamento e no número de associados. Por isso, houve a necessidade de investir mais incisivamente em estrutura para manter a curva de ascensão.
Conforme o vice-presidente da Coopeavi, Denilson Potratz, a cooperativa segue o seu planejamento estratégico para este ano, mantendo todas as suas ações programadas e indo até mesmo além do previsto, como foi com a incorporação à Pronova. “Este ano [de janeiro até o mês de outubro], a Coopeavi contratou 117 funcionários, entre colaboradores para novas unidades e turnover.
Para o próximo ano, a expectativa de contratação é menor devido ao grande volume inaugurações e investimentos realizados este ano. O objetivo é ampliar o trabalho nas regiões onde inauguramos novas unidades”.
Seguindo o ritmo de expansão de sua rede de atendimento, o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) – terceira maior rede em pontos de atendimento do Estado e que opera com 93 agências em 66 municípios capixabas –, anunciou que abrirá 12 novas agências no próximo ano – oito delas serão instaladas no Espírito Santo. Os novos pontos de atendimento contemplam o planejamento estratégico da instituição que, neste ano, já inaugurou quatro agências e ampliou e modernizou outras cinco.
Para Nailson Dalla Bernadina, diretor-executivo do Sicoob ES, mais do que movimentar cifras milionárias para dar vida ao planejamento estratégico da cooperativa de crédito, os investimentos permitem uma “injeção de ânimo” na geração de empregos no Estado. “Ao inaugurar novas unidades, portanto, a cooperativa contribui para movimentar a economia local, criando oportunidades de emprego e renda. Para os associados, há soluções modernas que facilitam sua vida. A proximidade com o cooperado também é um dos diferenciais da instituição”.
Fatores que determinam desempenho do setor
Para os especialistas, três fatores são primordiais para a boa performance do setor. O primeiro deles está relacionado ao associativismo, como aponta Egidio Malanquini, vice-presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) e presidente do Sindicato da Indústria de Torrefação e Moagem de Café do Estado do Espírito Santo (Sincafé).
“O sistema cooperativista vem demonstrando sua força há anos. Isso é o reflexo do trabalho que está sendo desenvolvido junto aos produtores, e hoje, sem dúvida, é um dos setores mais organizado do país. O associativismo é o caminho para superar as dificuldades que o dia a dia nos impõe, principalmente quando se fala em pequenos negócios”, avalia.
Aliado a isso, há também a diversificação de atividades. “A receita do sucesso do setor é diversificar as atividades com participação dos associados e gestão eficaz, foco nos negócios internos e externos, com planejamento participativo. Não há segredo no sucesso, há sim planejamento, crença, participação e investimento. Tem uma frase tão antiga e de conhecimento de todos: ‘A união faz a força’. Esta é a essência do cooperativismo e do associativismo”, completa Malanquini.
Enquanto para o presidente do Sistema OCB-SESCOOP/ES, Esthério Sebastião Colnago, o fator predominante para o bom desempenho do cooperativismo é o compromisso com o desenvolvimento social. “O primeiro fator decisivo para a alta performance do setor é o fato de ser uma sociedade de pessoas que visa, além do lucro, o desenvolvimento social. É uma sociedade que tem bem definidos os princípios e valores: contribui com o desenvolvimento da comunidade através do recolhimento dos impostos e contribuições; organiza a produção e socializa os ganhos e perdas, e age com transparência, ética e profissionalismo para com seu cooperado”, salienta.
Impacto na sociedade
Portanto, mais do que ganho econômico, os produtores veem no cooperativismo um caminho para seguir juntando os esforços e construindo um ambiente forte, com uma economia consolidada e um reconhecimento merecido do seu trabalho, o que proporciona um impacto direto na sociedade onde vivem.
“A nossa cooperativa busca uma proximidade com o produtor rural associado para manter o mesmo nível de atendimento, acolhimento e qualidade do serviço prestado. Com uma nova unidade, entregamos à região uma equipe dedicada a atender necessidades locais, para viabilizar a permanência do produtor na propriedade com sua família”, diz Potratz.
Assim, o cooperativismo, que é baseado em sete princípios fundamentais, sendo o sétimo o “Interesse pela Comunidade”, tem o poder de transformar a sociedade num todo, como aponta Colnago. “Os investimentos geram emprego, distribuem renda e promovem a inclusão social. As cooperativas estão sempre engajadas em projetos sociais das comunidades onde estão inseridas”, afirma.
Um exemplo é o “Dia C” – Dia Internacional do Cooperativismo – uma experiência que resgata os valores do cooperativismo e promove a construção de novos conceitos e referenciais. “As cooperativas têm realmente o poder de mudar para melhor a vida das pessoas. O lema é: a minha felicidade só estará completa se o outro também estiver feliz. Essa é uma prática diária de quem já é cooperativista. Faz parte do seu dia a dia”, finaliza Colnago.
Matéria publicada na página 03 da edição do Jornal O PIONEIRO 08 de novembro de 2015