Borracha natural: Cadeia produtiva necessita de política de incentivo ao fomento de novos plantios
Ívna Ferreira
O Espírito Santo, segundo dados do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), possui condições naturais e posicionamento geográfico favoráveis para a incorporação da heveicultura – cultivo da seringueira –, às atividades do agronegócio. Atualmente, o Estado é o quarto maior produtor do Brasil e tem cerca de 15 mil hectares plantados nas regiões Sul, Norte e Noroeste. Em Linhares são em torno de 1.000/ha.
As possibilidades do cultivo em praticamente todo o território capixaba são asseguradas pela ordem natural. Conforme o Incaper, mais de 80% das áreas capixabas possuem clima ideal para o cultivo da seringueira devido ao inverno seco e a precipitação de chuva que, normalmente, é acima dos 1.100 mm anualmente. A maioria dos seringais plantados no Estado não é irrigada.
De acordo com o diretor financeiro da Cooperativa dos Produtores de Borracha do Espírito Santo (Coopbores), Emir de Macedo Gomes Filho, a exploração da atividade tem gerado bons resultados à agricultura familiar.
“Um homem apenas é capaz de cultivar aproximadamente cinco hectares de seringueira e, ainda, consegue sangrar até 1.000 árvores/dia e trabalhar no sistema D5 [sangria em intervalos de cinco dias], que hoje é considerado ideal”, disse Gomes Filho. “Com boas práticas agrícolas, pode-se alcançar de 2.500 a 3.000 Kgs/ha. A renda é variável, pois depende do valor de mercado da borracha”, acrescentou. A Coopbores conta hoje com 36 cooperados, cuja produção é destinada à Agro Ituberá – empresa de beneficiamento de borracha natural localizada na cidade de Ituberá, no Sul da Bahia. De acordo com Gomes Filho, o custo aproximado para implantar 1 hectare de seringueira gira em torno de R$ 20 mil.
“Precisamos de uma política pública consistente voltada para o setor. Linhas de crédito menos burocráticas e compatíveis com nossa atividade, já que o retorno do investimento é demorado. Temos clima, solo, mão de obra e genética para tornarmos o nosso país o maior produtor de borracha mundial e alcançar sua auto-suficiência”, destacou.
Gomes Filho ressaltou que, apesar dos cortes de investimentos do Programa de Expansão da Heveicultura Capixaba (Probores), o cooperado não foi afetado. “O efeito da suspensão do Probores acabou prejudicando a política de incentivo e expansão da cultura no Estado, atingindo o pequeno produtor e agricultura familiar. Felizmente,
nossos cooperados não dependiam do programa”.
Desaceleração
No último ano, o crescimento da demanda por borracha no Brasil desacelerou. Conforme Emir de Macedo Gomes Filho, este cenário se deve a vários fatores, inclusive, pela redução de compra da China, que é a mola propulsora do consumo mundial.
“Plantações novas entrando em produção no Continente Asiático, queda do barril de petróleo, deixando a borracha
sintética mais competitiva em relação à natural e o aumento do estoque mundial também foram fatores que contribuíram.
Naturalmente que com todas estas razões o preço despencou, atingindo toda a cadeia”, frisou.
Medidas para atenuar a crise
Devido às dificuldades enfrentadas pelos produtores de borracha ao longo do ano – preços e condições climáticas ruins –, medidas estão sendo tomadas para atenuar os efeitos da crise no setor, dentre elas a criação da Associação Brasileira de Borracha (Abrabor).
Segundo Gomes Filho, a associação tem atuado politicamente para conseguir aumentar o valor do preço mínimo do Kg da borracha para R$ 2,50, que hoje é de R$ 2; manutenção de recursos para leilões do Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro) de borracha, e aumento da tarifa de importação de 4% para 35%.
“Espera-se com isto forçar a indústria, que nunca ganhou tanto dinheiro como agora, pois adquire matéria-prima mais barata, mas não diminuiu o preço do pneu para o consumidor. Além destas ações, as entidades buscam conversar com o setor produtivo a fim de encontrar uma solução negociável para socorrer o segmento”, finalizou.
Matéria publicada na página 10 da edição do Jornal O PIONEIRO 29 de outubro de 2015