Clima seco inflaciona preço do mamão nos supermercados
Ívna Ferreira
O clima seco, combinado a outros fatores, tem sido o principal responsável pelo desencadeamento do aumento no preço do mamão nas prateleiras dos supermercados. O Espírito Santo, que é o segundo maior produtor de mamão do Brasil, viu sua produção cair cerca de 70%, no primeiro semestre deste ano, devido à falta de chuva. E isso refletiu diretamente no preço do produto.
“No primeiro semestre, a estimativa de queda na produção da fruta no Espírito Santo foi de 70%. No primeiro semestre, auge da falta de fruta, os preços atingiram patamares recordes chegando a R$ 5 o quilo da fruta pago ao produtor no campo. Com isso, o preço no supermercado chegou a preços elevados, variando de R$ 10 a 15 nos supermercados do país”, explicou o diretor Executivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex), Franco Fiorot.
Segundo o diretor Executivo da Caliman Agrícola, Geraldo Ferreguetti, a mudança no microclima do Espírito Santo – que acontece localmente –, observada na região no segundo semestre de 2015 e primeiro quadrimestre de 2016, associada ao período de menor produção da fruta – entre junho e agosto –, também propiciou o aumento no preço do produto.
“O clima seco e extremamente quente, observado na região, provocou sequelas irreparáveis nas plantas de papaya, com aborto de flores e desenvolvimento irregular das frutas, culminando com produção baixa e frutas pequenas e mal formadas. A redução da temperatura e principalmente do foto-período, observado nos meses de junho, julho e agosto, já provocam uma redução na produção naturalmente, ou seja, em anos normais a produção é reduzida nesta época por fenômenos naturais. Logo, estas combinações de fatores provocaram o aumento excessivo de preços”, afirmou.
Exportações
Conforme Ferreguetti, devido à produção reduzida e ao aumento excessivo no preço do mamão, as exportações ficam comprometidas, pois, no mercado internacional, os preços não sofrem variações extremas como no mercado interno, mantendo patamares de preços estáveis.
“O aumento nos preços das frutas, observados recentemente, elevam demasiadamente os custos e perdemos competitividade internacional, principalmente nos Estados Unidos, onde as frutas provenientes do México e da América Central chegam com preços altamente competitivos em relação à fruta brasileira”, destacou.
Apesar disso, o diretor Executivo da Brapex, Franco Fiorot, afirmou que as exportações capixabas não foram afetadas, pois somente um pequeno percentual da produção é exportado, cerca de 3%. “Nesse caso, na média geral, as empresas exportadoras conseguiram manter seus índices de produção, embora as exportações pudessem ter sido superiores se não tivéssemos sofrido tanto com a falta de água nas lavouras e queda na produção”.
A tendência é que a produção e os preços voltem à normalidade nos próximos meses, com a ocorrência de temperaturas mais amenas e chuvas regulares e dentro do previsto para o último trimestre do ano. “Se chover, a tendência é normalizar mais a produção da fruta. Vai depender do clima. Quanto às exportações, os últimos meses do ano, tradicionalmente, são mais positivos para a oferta de fruta para o mercado internacional”, salientou Fiorot.
Adoção de medidas
Segundo Fiorot, para mitigar os efeitos da seca sobre a produção, é necessário que os produtores adotem inovações nos sistemas de irrigação para melhorar o aproveitamento da água usada na lavoura, planejando plantios de acordo com capacidade hídrica das propriedades, dentre outras ações.
Já Ferreguetti ressaltou que qualquer medida a ser adotada pelo produtor deve ser fruto do planejamento de suas atividades, o que indica tratar-se de medidas que já deveriam ter sido implementadas anteriormente.
“Dentre as principais [medidas] estão a utilização de sistemas de irrigação eficientes, bem projetados e bem manejados, com acompanhamento técnico de profissionais que irão indicar quando, quanto e como irrigar; conhecer a capacidade de produção hídrica do manancial que o atende; e não projetar consumos de água acima da capacidade que a bacia hidrográfica disponibiliza, levando em conta, inclusive, que a água é um bem de todos”, frisou.
Matéria publicada na página 03 da edição do Jornal O PIONEIRO 18 de setembro de 2016