Este ano, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Recursos Hídricos Naturais de Linhares realizou uma retirada das macrófitas da Linha Verde. O trabalho, que começou em janeiro, fazia parte de um projeto maior de “limpeza” das lagoas urbanas com um investimento de R$1.400.000,00. Na época, o Secretário de Meio Ambiente Fabricio Borghi Folli chegou a afirmar ao site da Prefeitura Municipal que “com essa manutenção será possível garantir o restabelecimento de suas características naturais”.
Contudo, o biólogo Elber Tesch aponta que o trabalho feito ali é de cunho paisagístico e não ecológico. Ainda que a retirada favoreça a entrada de luz solar “isso é ínfimo para restaurar um ambiente que está tão poluído, tão degradado”, argumenta.
A macrófita, assim como a coloração verde da água, é um bioindicador de eutrofização. A alta carga de nutrientes na lagoa favorece o surgimento dessas plantas. Por sua vez, a eutrofização é um processo causado, principalmente, pelo despejo de esgoto na água, o que a enriquece com nitrogênio e fósforo. Isso propicia a proliferação de algas e microrganismos. Estes últimos consomem grande parte do oxigênio disponível na água, tornando o ambiente inabitável para diversos organismos.
Elber conta que, até hoje, no SAAE quando a estação elevatória dá defeito, os esgotos acabam descendo na lagoa. Além da autarquia, moradores acabam contribuindo com o lançamento de esgoto ao conectar a rede de esgoto na galeria de águas pluviais que deveriam transportar água da chuva. Assim, o esgoto é direcionado não para uma estação de tratamento, mas para o espelho d’água. Glaudison Pereira de Souza Júnior, membro da Associação de Moradores do Bairro Interlagos menciona ainda que o fato de muitos moradores usarem fossas negras, esses excrementos têm como destino final a lagoa.
Uma pesquisa realizada pela Comissão Ambiental do Bairro Interlagos em 2016 com uma amostra de 2.562 famílias do bairro revelou que 26% dos moradores do bairro não possuem coleta de esgoto em casa e que 31% utilizam fossas. A pesquisa apontou que a maioria daqueles que não têm rede de esgoto são de baixa renda e de menor instrução. Outro dado interessante é de que 68% dos entrevistados já presenciaram o lançamento de esgoto na lagoa.
Por ser um ambiente lêntico, ou seja, sem grande renovação de água, a poluição da água por esgoto se torna ainda mais intensa. A ponto de o biólogo dizer não ser possível, de fato, tornar o ambiente como ele era há um século atrás, pois muitas espécies nativas dali morreram. Como não foi feito um levantamento dos organismos da região, não é possível saber ao certo o que vivia na Linha Verde antes da eutrofização. O que ainda pode ser feito, no máximo, é resgatar a balneabilidade do ambiente.
Os peixes da Linha Verde são um exemplo de exotismo; não são originários daquele ambiente, mas sim espécies que conseguiram se adaptar a menor disponibilidade de oxigênio, como a tilápia.
Mônica Aparecida Malacarne de Souza (34 anos e monitora de transporte escolar) mora perto da lagoa por 30 anos. Tanto ela, quanto sua mãe e seu padrasto costumavam pescar na Linha Verde por hobby. Há dois anos atrás, porém, esse costume caiu em declínio, porque já não havia mais quem quisesse consumir os peixes. Devido a poluição, existe um grande risco de ser contaminado por patógenos ao ingerir esses animais, como Escherichia coli e Giardia lamblia, que causam diarréia.
Na região do bairro Interlagos, se vê dois cenários bastante distintos margeando a lagoa. De um lado, casas, palmeiras, cercas e gramado; na margem oposta, onde é o Jardim Laguna, a presença de vegetação mais densa com mais aves pousadas nas árvores. De acordo com Elber Tesch, uma grande densidade populacional de seres humanos afugenta os animais silvestres. Nesse caso, a mata envolta realiza o papel de habitat dos animais e preservação da mata ciliar.
O Plano Diretor Municipal estabelece um mínimo de 30m de distância entre construções e espelhos d’água em áreas urbanas. No entanto, esse mínimo nem sempre é respeitado. “A gente identifica muito por questões de invasão, de vendas de áreas clandestinas e da falta de informação da legislação existente de quem compra ou constrói esses imóveis”, conta Glaudson de Souza, da Associação de Moradores do bairro Interlagos.
Ele diz que moradias à beira da lagoa tendem a possuir dificuldades em lançar os seus dejetos em uma rede de esgoto, já que o esgotamento funciona por gravidade e essas casas estão abaixo do nível da rua. Muitas vezes, a solução encontrada é direcionar o esgoto para a lagoa. Elber acrescenta que, com mais casas, maior será a tendência de produção de resíduos sólidos que, eventualmente, vão para a água: “A pessoa sempre vai deixar cair um lixo, um plástico, um papel que vai para lagoa”.