Mulheres na menopausa podem sofrer risco cardiovascular e outras doenças
A menopausa é o nome dado ao período fisiológico após a última menstruação espontânea da mulher. Nesse espaço de tempo estão sendo encerrados os ciclos menstruais e ovulatórios. O início da menopausa só pode ser considerado após um ano do último fluxo menstrual, pois, durante esse intervalo, a mulher ainda pode menstruar ocasionalmente.
Ela acontece, segundo o ginecologista e obstetra, Carlos Roberto Zoppe Brandão, em meio a uma série de alterações hormonais e físicas, trazendo incômodo e, principalmente, muitos riscos à saúde, como o aumento de acidente cardiovascular, quando não acompanhada adequadamente. “O uso abusivo de hormônios pode levar a riscos para a mulher tais como hipertensão, cardiopatia, câncer de mama e câncer de fígado”, frisou.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,2 milhões de mulheres terão 50 anos ou mais, em 2030. Devido à expectativa de vida destas mulheres, é preciso que todas fiquem atentas aos problemas que podem estar associados à falta de hormônios como o estrogênio.
Por este motivo, no dia 18 de outubro será celebrado o Dia Mundial da Menopausa. Uma data criada para alertar as mulheres para os principais sintomas desta etapa de suas vidas, orientando-as a procurar um especialista assim que eles começarem a aparecer.
“Não tem uma idade definida, pode acontecer em 1 % das mulheres antes dos 40 anos, chamada menopausa precoce e pode acontecer até após os 55 anos. Na maioria das vezes acontece em torno dos 50 anos e os sintomas podem persistir por vários anos”, disse Brandão.
O PIONEIRO – A menopausa é o período que se inicia logo após a última menstruação. Existe um tempo determinado para iniciar e cessar?
CARLOS BRANDÃO – Por definição, a menopausa é a última menstruação, diagnóstico retrospectivo, após amenorréia [falta de menstruação] de 12 meses ou mais, enquanto que climatério é o período de transição entre a menacme [período fértil da mulher] e a senectude, caracterizada pela redução fisiológica da função ovariana e alterações endócrinas, somáticas e psíquicas.
Não tem uma idade definida, pode acontecer em 1 % das mulheres antes dos 40 anos, chamada menopausa precoce, e pode acontecer até após os 55 anos. Na maioria das vezes acontece em torno dos 50 anos e os sintomas podem persistir por vários anos.
O PIONEIRO – Quais os sintomas que as mulheres apresentam neste período?
CARLOS BRANDÃO – Fogacho [onda de calor] é o sintoma mais relatado pelas mulheres, porém, existem vários outros sintomas físicos e emocionais, tais como irritabilidade, insônia, mau humor, desânimo, depressão, ganho de peso, pele ressecada, enrugamento da pele, queda de cabelo, atrofia da vagina com secura vaginal ao coito e dor, perda de urina, infecção urinária recorrente, diminuição da libido. Lembrando que a deficiência de estrogênio aumenta significativamente o risco de osteoporose.
O PIONEIRO – É regra as mulheres sentirem todos os sintomas?
CARLOS BRANDÃO – A maioria das mulheres apresenta boa parte dos sintomas relatados acima. Uma pequena parcela delas não apresenta sintomas, mas é importante questionar, pois muitas mulheres não sabem dos sintomas e, às vezes, têm uma qualidade de vida ruim sem saber que se trata de sintomas do climatério.
O PIONEIRO – A reposição hormonal é sempre recomendada para este caso?
CARLOS BRANDÃO – A terapia de reposição hormonal deve ser sempre discutida com a mulher, respeitando suas escolhas, mas esclarecendo as vantagens e desvantagens da terapia hormonal, que não é somente para reduzir fogachos, e sim melhorar as demais alterações, principalmente a vida sexual da mulher, também reduz o risco de fraturas por osteoporose e melhorando em muito a qualidade de vida da mulher. Devem sempre ser observados os fatores de risco antes de iniciar a terapia hormonal.
O PIONEIRO – Como é feita a terapia hormonal?
CARLOS BRANDÃO – A falência ovariana leva a uma redução acentuada das taxas de estrogênio, progesterona e testosterona. Baseada na sintomatologia da mulher, serão escolhidos o tipo de hormônio e a via de uso, que pode ser oral, vaginal, transdérmico e através de implantes. Levando sempre em consideração as contra indicações tais como pacientes com história de câncer de mama, de endométrio, hepatopatia, tromboembolismo, doenças metabólicas sem controle e uma atenção especial as fumantes, pois por si só já representa grupo de risco.
O PIONEIRO – Dieta e exercícios físicos podem ser associados à reposição hormonal para mitigar os efeitos da menopausa?
CARLOS BRANDÃO – Mulheres que se exercitam e seguem uma dieta saudável lidam melhor com as mudanças da menopausa. O exercício físico deve sempre ser associado, além de estimular a circulação do sangue, melhora do condicionamento físico, estimula os ossos, reduzindo o risco de osteoporose. Através do exercício físico, nosso corpo libera mais endorfinas e serotoninas que são substâncias que têm ação analgésica e que dão sensação de prazer, melhorando assim a qualidade de vida da mulher.
A dieta deve ser adequada para esta fase de vida da mulher. O metabolismo da mulher reduz e há uma tendência ao ganho de peso com aumento da gordura abdominal. É um momento de rever a alimentação. Procurar ingerir alimentos que forneçam as substâncias necessárias ao bom funcionamento do corpo tais como vitaminas, sais minerais, fibras, proteínas, lipídios e carboidratos na quantidade adequada, evitando o ganho de peso que tanto incomoda as mulheres. A hidratação é de extrema importância, não só os cosméticos, mas tomar bastante água. Sugerimos sempre que procure uma nutricionista para uma orientação nutricional.
O PIONEIRO – Quais os riscos da menopausa quando não acompanhada por um profissional?
CARLOS BRANDÃO – As mulheres devem ficar muito atentas às terapias da ‘moda’, às vezes influenciadas pela mídia. O uso de hormônios é coisa séria. O uso abusivo de hormônios pode levar a riscos para a mulher tais como hipertensão, cardiopatia, câncer de mama, câncer de fígado. Atenção especial à testosterona que é um anabolizante e que deve ser usado com muito critério.
O PIONEIRO – Quais as principais dicas para as mulheres que estão para iniciar ou já se encontram neste período?
CARLOS BRANDÃO – As mulheres no último século mudaram muito seus cuidados com a saúde, o que fez com que vivessem mais. Naturalmente apareceram doenças que desenvolvem com o avançar da idade. Daí a importância de, o mais precoce possível, fazer prevenção.
É importante salientar que se deve procurar o ginecologista anualmente para que seja feita uma avaliação clínica, ser realizados os exames bioquímicos [hemograma, glicemia colesterol, tireóide, dentre outros], mamografia, citologia oncótica [preventivo], densitometria óssea quando indicado.
Costumo falar para as minhas clientes que não existe terapia milagrosa. Deve-se avaliar constantemente a qualidade de vida; procurar ter um bom convívio familiar e social, pois a alimentação adequada, a prática da atividade física e o controle do estresse fazem com que as pessoas tenham mais saúde e vivam mais felizes.
Matéria publicada na página 07 da edição do Jornal O PIONEIRO 18 de setembro de 2016