Os deputados aprovaram, com emenda, o Projeto de Lei (PL) 93/2023, que estabelece medidas contra manifestações públicas que desrespeitarem quaisquer crenças religiosas no Espírito Santo. A matéria, de Alcântaro Filho (Republicanos), foi acatada na sessão ordinária da Assembleia Legislativa (Ales) desta terça-feira (4).
A proposição já havia recebido parecer oral favorável nas comissões reunidas de Justiça, Cultura e Finanças, restando apenas a de Direitos Humanos. Na sessão, a relatora Camila Valadão (Psol) liberou o parecer, manifestando-se contra a proposta.
Ela destacou que a mesma foi apresentada logo após a realização do Carnaval e argumentou que possuía um caráter de censura contra as liberdades de expressão, artística e cultural. Além disso, que a Justiça é quem deveria avaliar se ocorreu ou não qualquer crime. Por fim, falou que o próprio regulamento da Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial (Liesge) já veta o vilipêndio a religiões.
O relatório foi acolhido no colegiado de Direitos Humanos. Entretanto, na votação simbólica no Plenário os parlamentares ratificaram o parecer anterior, dado nas comissões conjuntas. Votaram contra, além de Camila, os deputados Tyago Hoffmann e Janete de Sá (ambos do PSB), João Coser (PT) e Alexandre Xambinho (PSC).
Após a votação vários parlamentares fizeram a justificativa de voto. Callegari (PL) disse que o vilipêndio a religiões vem ocorrendo no Brasil há muitos anos e que a liberdade de expressão e o direito à livre manifestação possuem limites. Capitão Assumção (PL) reforçou que o projeto combate a “cristofobia” e tem como premissa proteger as crenças e os dogmas religiosos.
Já Lucas Scaramussa (Podemos) explicou que vilipêndio significa “desprezar, desrespeitar e desdenhar”, e já é considerado crime. Ele explicou que a própria Constituição Federal prega o respeito aos atos religiosos. “Esse projeto não é apenas de viés religioso, mas atende aquele que gosta do Carnaval, que vai assistir e não quer se impactar com algo que foge às boas práticas de costume”, salientou.
Camila subiu à tribuna e mais uma vez enfatizou que a matéria tinha como mote censurar o Carnaval e as demais manifestações artísticas e culturais. “Acho curioso quando falam de cristofobia. (…) Os dados do nosso país demonstram que a intolerância religiosa acontece contra as religiões de matriz africana, um nítido racismo religioso. Em 2019 os casos aumentaram 56% em relação ao ano anterior, dados do ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos da Damares. A intolerância predominante é contra umbanda e candomblé. (…) Essas religiões que são vilipendiadas nesse país”, frisou.
Alcântaro agradeceu aos colegas pela aprovação do projeto. Ele destacou não ser contra o Carnaval, mas contra o desrespeito às religiões. “O projeto é contra abuso contra pegar dinheiro público para brincar com a fé dos outros. Aqui no Espírito Santo não tivemos casos, mas no Rio de Janeiro e São Paulo está se tornando rotineiro. Pegam milhões de reais para vilipendiar e afrontar a fé cristã”, afirmou.
Por fim, Janete de Sá (PSB) ressaltou que nenhuma lei poderia ter o poder de proibir as expressões artísticas e que a própria sociedade repudia aquelas que tripudiam sobre as religiões. “Acho o Carnaval uma expressão democrática e linda, que gera emprego e renda no Espírito Santo e projeta nosso país além das fronteiras. Não deve ter proibição, mas exaltação da criatividade”, concluiu.
Por conta da emenda acatada nas comissões reunidas que retirou a palavra “carnavalescos” do artigo 2º, deixando o texto apenas como “desfiles”, o projeto deve agora retornar à Comissão de Justiça para redação final.
Foto: Lucas S. Costa