Nestor Mora
•• Pense em um lugar onde você naturalmente se sentiria em casa, um ambiente acolhedor com um clima de muito carinho e cuidado, organizado através dos detalhes com suas plantinhas e flores, sem deixar faltar aquele tradicional cafezinho com bolo da tarde. Tudo feito com muito amor pelas meninas da Associação de Prevenção e Atenção ao Câncer (APAC). Para quem costuma transitar pelo centro de Linhares, certamente já passou em frente ao local sem saber que na Av. Governador Lindemberg, ao lado do BNE, está uma instituição-casa que acolhe os pacientes em tratamento contra o câncer. No estabelecimento funcionava a antiga biblioteca municipal de Linhares e que há dois anos foi cedido pela prefeitura, local considerado estratégico pois facilita o acesso aos seus visitantes. Tudo começou através da iniciativa de um grupo de mulheres, dentre elas Audayres Alves, e que desejavam esclarecer dúvidas sobre o câncer de mama. Os encontros eram realizados nas suas casas criando um ambiente sempre acolhedor de modo que as convidadas pudessem ter uma perspectiva positiva sobre os tratamentos e, sobretudo, manter uma boa qualidade de vida. As reuniões deram tão certo que em 2006 o grupo decidiu fundar a Associação reconhecida atualmente como de Utilidade Pública Municipal.
A senhora Maria de Lourdes Alves, carinhosamente chamada por Lourdinha, é a atual presidente voluntária da instituição e explica sobre a importância do espaço para a acolhida dos pacientes: “o nosso grande objetivo é dar apoio aos portadores de câncer. Mas sempre achei que podemos fazer mais, temos que ir além, principalmente considerando as dificuldades pelas quais os pacientes passam. O grande desafio nosso é trazer o paciente para receber esse apoio que a gente quer dar, porque sabemos que é um momento difícil”. Audayres também reconhece o desafio sobretudo considerando o estado clínico dos pacientes: “eu entendo que a dificuldade que existe de trazê-los é porque os medicamentos são muito fortes, eles tendem a se retrair, ficar no seu cantinho, os familiares cada qual tem as suas obrigações, principalmente para a mulher que precisa cuidar da casa e dos filhos, além do tratamento que precisa fazer. Por isso a ideia é oferecer esse ambiente caseiro e acolhedor, onde elas podem descansar, se descontrair e fazer novas amizades”. Lourdinha lembra que o paciente chega de municípios circunvizinhos para o local de tratamento que, por sua vez, é distante da Associação: “por isso de algum modo há dificuldade em chegar aqui. Já conversamos com a diretora do Hospital Rio Doce para a possibilidade de trazer os pacientes de lá para cá”, explica. Audayres Alves esclarece que o objetivo principal da APAC é desenvolver uma terapia ocupacional para os visitantes através de inúmeras atividades e oficinas, como de pinturas em tecido, fábrica de bonecas, arranjos de plantas e flores, crochê e macramê. “Para isso contamos com uma equipe de profissionais voluntários para realizar as atividades, ensinando as técnicas, criando um lindo resultado que, no final, é vendido por um preço justo. Assim as meninas, além de se divertirem, exercitarem a parte motora e cognitiva, ainda conseguem ter algum retorno financeiro”, afirma Audayres.
A artesã e professora Nilza declara sobre a sua relação com a APAC e as alunas que chegam para participar das oficinas: “amo muito estar aqui e fazer essa atividade junto com as meninas. Estou aqui de coração. Para elas é um trabalho legal porque depende muito de raciocínio a fazer o molde, pois é preciso usar a criatividade, para depois pintar no tecido”. A Associação ainda conta com um quadro de 15 voluntários que trabalham em uma escala para atender permanentemente os 40 visitantes que chegam à casa, algo em torno de 6 a 13 por dia. “É um trabalho que depende muito do entendimento do tempo de cada um ou outro, porque às vezes a pessoa está bem, animada, e de repente dá uma caída de astral”, reitera Audayres.
A direção faz questão de explicar que a APAC é mantida exclusivamente por doações. “Desde os retalhos, tintas, materiais em geral que são doados pelas fábricas para realizar nossas oficinas, até mantimentos, sofá, cama, computadores, tudo provém de doações da comunidade porque sabem que é para uma boa causa, além do que o nosso trabalho tem credibilidade, então todos doam com o coração”, observa Lourdinha de forma agraciada. As meninas ainda lembram que desde que ganharam o espaço pela prefeitura há dois anos, a APAC vem contando com as iniciativas benéficas de cada um, inclusive para a reforma do local. Aliás, um ambiente considerável, com auditório e sala para as oficinas, uma outra sala de estar com um sofá aconchegante e televisão para assistir aquela novela preferida. Além de uma ampla cozinha e um quartinho próprio para repouso dos pacientes.
A Associação ainda conta com uma sala privativa para atendimento com a psicóloga, além de um outro ambiente onde funciona o bazar. “Nossa meta é audaciosa, a gente quer chegar em um momento em que o paciente que depende de condução para voltar para casa e tem dificuldade, receber essa pessoa e poder dormir aqui. Já temos um quartinho para isso. Aqui todos são convidados, inclusive para voluntariar. Além disso desejamos chegar em um momento de termos associados voluntários colaborando com uma quantia mensal. Às vezes uma empresa ou outra colabora, mas não é algo permanente. Por isso estudamos a possibilidade de no futuro criarmos um quadro de associados”, revela Lourdinha. As meninas da direção da casa também fazem questão de dar um último recado aos que desejam visitar a Associação e que estão passando pelo processo de tratamento contra o câncer: é muito importante fazer os exames de rotina, se for mulher avaliar com o teste do toque e a mamografia, já os homens sempre ir ao proctologista. O importante é a vigilância do corpo. Qualquer coisa que apareça de diferente que não tinha, é bom consultar o médico. Além disso, nosso desejo é que os pacientes venham nos conhecer, estamos à disposição deles para receber quem quer que seja, estamos aqui para fazer a acolhida, oferecer nossa atenção, carinho e cuidado”.
Matéria publicada na página 05 da Edição do Jornal O PIONEIRO do dia 02 de julho de 2019