Há 50 anos este samba, brado dos sofredores da época, surgia como protesto contra a ditadura que nascia com Getúlio Vargas e um prometido Estado-Novo. O povão veio para os desfiles das grandes escolas, cantando o refrão, abraçado que estava a um socialismo-fantasia, encobrindo velhas raízes, ao lado de Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, alvo do novo presidente. Esta lembrança guarda alguma semelhança com a imagem deste ano marcado pela necessidade de um novo samba-enredo, apenas trocando algumas figuras e lamentáveis fatos. O refrão, caso viesse a ser feito um samba novo, rebolado e bem figurado, refletiria, sem dúvida, o estado de espírito não só dos menos favorecidos, mas de todas as classes sociais, nas periferias, nas ruas, nas escadarias, nos bairros, nas praças, nas capitais e no interior, traduzindo o choro desesperado das famílias, de seus filhos, de pais desempregados, de profissionais buscando uma saída em subempregos, formando uma legião envergonhada por tanta corrupção, sonegação e impunidade. Este sim, foi um verdadeiro golpe na esperança dos brasileiros. A Semana da Pátria exige que a bandeira do Brasil substitua a bandeira estrelada da impunidade, hasteada nos 13 anos de petismo. “Quem comprara essa briga?”
O dia em que o morro descer e não for carnaval
(Samba de Wilson das Neves)
O dia em que o morro descer e não for carnaval
Ninguém vai ficar para assistir o desfile final
Na entrada, rajada de fogos para quem nunca viu
Vai ser de escopeta, metralha, granada e fuzil
(É a guerra civil)
No dia em que o morro descer e não for carnaval
Não vai nem dar tempo de fazer o ensaio geral
E cada uma ala da Escola será mais uma quadrilha
E a evolução já vai ser de guerrilha
E a alegoria um tremendo arsenal
O tema do enredo vai ser a cidade partida
No dia em que o couro comer na avenida
Se o morro descer e não for carnaval.
O povo virá de cortiço, alagado e favela
Mostrando a miséria sobre a passarela
Sem a fantasia que sai no jornal
Vai ser uma única Escola, uma só bateria
Quem vai ser jurado; Ninguém gostaria
Pois desfile assim não terá mais igual
Não tem órgão oficial, nem Governo, nem Liga
Nem autoridade que compre esta briga
Ninguém sabe a força desse pessoal
Melhor é o Poder devolver a esse povo a alegria
Senão todo mundo vai sambar no dia
Em que o morro descer e não for carnaval.