Com tecnologia inspirada em pesquisas realizadas no Laboratório de Computação de Alto Desempenho (LCAD) da Ufes, a empresa Marcopolo, em parceria com a startup Lume Robotics, divulgou o primeiro ônibus autônomo da América Latina. O veículo é do modelo Volare Attack 8, possui capacidade para 21 passageiros e é um legado do projeto Intelligent Autonomous Robotic Automobile (IARA), criado em 2009 na Universidade.
O protótipo ficou em desenvolvimento durante dois anos. O CEO da Lume Robotics (empresa responsável pelo produto), Ranik Guidolini, afirma que a Ufes foi fundamental para o sucesso do projeto. “A Universidade proporcionou a formação dos pesquisadores que fundaram a empresa e a realização do programa IARA. Além disso, a Lume é uma startup incubada no Espaço Empreendedor, ligado à DIT [Diretoria de Inovação Tecnológica] da Ufes, que concede todo o acesso à infraestrutura do laboratório LCAD”, explica.
O professor aposentado da Ufes Alberto Ferreira, fundador do LCAD e sócio da Lume Robotics, afirma que o Espaço Empreendedor está sendo essencial para empresas como a Lume e outras que estão abrigadas no local. “É uma forma muito legal da universidade gerar emprego, renda e riqueza a partir do trabalho acadêmico, científico e tecnológico desenvolvido lá. Por meio desse espaço, as iniciativas têm acesso aos laboratórios, alunos e professores, possibilitando que eles participem dessas atividades e deem esse empurrão do conhecimento de alto nível da universidade”, destaca.
O protótipo foi apresentado em junho na cidade de Caxias do Sul (RS).
Além do ônibus, a tecnologia já foi empregada em um automóvel, um jato e um caminhão. O atual lançamento, em parceria com a Marcopolo, é uma iniciativa para abordar o mercado de transporte de passageiros. “A ideia do Volare Attack 8 surgiu através da possibilidade de criação de um sistema capaz de operar um veículo sem supervisão humana”, conta Guidolini. A partir dos conhecimentos desenvolvidos no projeto IARA, os pesquisadores fundaram a empresa para colocar a proposta em prática.
O automóvel já está disponível para operações em ambientes industriais. Contudo, por ora não há previsão de liberação para sua circulação em ambientes públicos, visto que, no Brasil, a legislação de trânsito não permite o trânsito de veículos autônomos em vias comuns.
Além do apoio do Espaço Empreendedor da Ufes e da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), o projeto conta com o apoio da Vale, ArcelorMittal, Petrobras e Embraer.
O Projeto IARA
Fundado em 2009 pela necessidade de um ambiente que aprofundasse a pesquisa do funcionamento do cérebro humano, o Intelligent Autonomous Robotic Automobile faz parte de um projeto de longo prazo do LCAD. Com o avanço do estudo das imagens no laboratório, em 2008, o programa alcançou o patamar de ter o algoritmo mais poderoso do mundo em reconhecimento de faces.
Após a conclusão da análise das imagens, os pesquisadores começaram a destrinchar os vídeos, o que levou à necessidade da criação do primeiro carro autônomo do Brasil. “Precisávamos de um ambiente de estudo no qual conseguíssemos interagir com as imagens dinâmicas, daí surgiu a ideia da elaboração de um robô em que pudéssemos instalar uma câmera. Começamos a experimentar pequenos protótipos em laboratório, mas não era um ambiente muito desafiador, então implantamos a câmera em um carro para simular o comportamento do cérebro humano e sua relação com o movimento”, explica Alberto Ferreira.
Em 2017, o automóvel desenvolvido pelo laboratório conseguiu percorrer 74 quilômetros de forma totalmente autônoma. Indo de Vitória a Guarapari, o carro lidou com todas as questões de trânsito presentes no cotidiano: avenidas movimentadas, semáforos, quebra-molas e pontes.
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