O impacto da falta de chuvas para a cafeicultura capixaba foi intenso e refletirá nas próximas colheitas, principalmente, do café Conilon. O último levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta uma redução de 32,4% na produção de Conilon. Diante deste cenário, a pergunta que fica é: quais as perspectivas do cafeicultor para o novo período após a seca?
Para João Elvídio Galimberti, engenheiro agrônomo e especialista de mercado café da Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi), é necessário analisar diversas variáveis para chegar a uma conclusão sobre as perspectivas futuras. A volta de chuvas em regiões produtoras foi muito comemorada pelos produtores, mas o volume de água não foi suficiente para recompor a déficit provocado pelo longo período sem chuvas.
“Ainda há uma preocupação a respeito do que vai acontecer nos próximos meses com relação às precipitações que houveram recentemente, e que ainda demonstrarão o devido desenvolvimento dependendo das chuvas que virão nos próximos meses”, disse Galimberti.
A seca atingiu todo o Espírito Santo, no entanto, em intensidades diferentes em cada região. As regiões Norte e Noroeste do Estado, onde concentra a maior parte da produção de Conilon, foram mais impactadas. Já as regiões Sul e Serrana do Estado, onde há uma concentração maior da variedade arábica, sofreu um pouco menos devido a altitude e o clima mais ameno.
A recuperação das lavouras produtivas em todo o Estado, independente da variedade, depende muito da sequência de chuvas para reduzir a escassez hídrica. Por isso, ainda não há uma opinião concreta sobre o futuro da cafeicultura, o que existe são produtores na expectativa de continuar produzindo e conseguir vender o seu café por preços mais elevados.
Chuva e florada
Segundo Galimberti, a chegada de um volume maior de chuvas no mês de setembro e outubro deu uma nova esperança para o produtor devido às flores. “Por exemplo, na cafeicultura de montanha, essas chuvas proporcionaram uma florada muito grande, diferente na região do Conilon, que teve uma florada, mas não foi convincente, e a maioria dos produtores não vê essa florada como sinônimo de produção, porque realmente a chuva no Norte do Espírito Santo, ainda, não foi satisfatória”, disse.
Preço
A maior preocupação dos produtores, neste momento, é saber como se comportará o mercado em relação ao preço daqui para frente, pois eles, conforme Galimberti, estão visualizando uma possibilidade de ter uma produção menor no próximo ano, se comparado com a safra deste ano.
“Além disso, o café é uma commoditie e os preços são voláteis, dependendo de muitas variáveis, ou seja, é difícil afirmar se haverá uma elevação ainda maior dos preços, mas o sentimento geral dos cafeicultores é que os preços tendem a subir ainda mais. Agora, até aonde ele vai chegar é uma questão preocupante, pois todos sabem que isso pode impactar na composição dos blends e estabelecer uma dificuldade para a indústria comprar este café”, ressaltou.
Cafés especiais
A cadeia produtiva de cafés especiais está migrando para uma terceira onda, com a exigência de certificações e rastreabilidade do grão, e esse é o futuro deste segmento da produção cafeeira, nas palavras de Galimberti.
“Este momento é desafiador, mas também é uma oportunidade para o produtor se projetar neste cenário, onde a principal necessidade do consumidor é a transparência sobre o processo produtivo e a origem da produção dos grãos. Por isso, este é o momento de trabalhar para atender a demanda do consumidor e fazer uma gestão para agregar valor à produção do cafeicultor, garantindo a sustentabilidade da cafeicultura”, finalizou.
Matéria publicada na página 03 da edição do Jornal O PIONEIRO 20 de outubro de 2016