Rodrigo da Vitória Gomes transformou o sistema prisional do Centro de Detenção e Ressocialização de Linhares (CDRL) ao criar feira de ciência que tem como fundamento usar os projetos desenvolvidos dentro da prisão
Quase 600 professores de todo o país foram inscritos no Prêmio Toda Matéria Professor do Ano 2025. As inscrições foram feitas por alunos e ex-alunos que indicaram os docentes que fizeram a diferença na vida deles. O Capixaba, Rodrigo da Vitória Gomes, professor de Química e Pedagogo, venceu o prêmio por idealizar uma das únicas Feiras de Ciências em presídio de regime fechado do mundo.
Em pleno mês dos Professores, o Brasil celebra um exemplo que atravessa muros — literalmente. Atuando há oito anos na Escola Estadual Prof. Manoel Abreu, vinculada ao Centro de Detenção e Ressocialização de Linhares (CDRL), no Espírito Santo, Rodrigo transformou a escola prisional em um laboratório vivo de ciência. A iniciativa, que acontece há quatro anos, mobiliza até 300 estudantes privados de liberdade por edição e impacta cerca de 1.900 pessoas por ano, envolvendo familiares, servidores e a comunidade local.
“Vivemos em meio à desvalorização da educação. E quando a gente entra na prisão, vê o quanto o papel do professor é essencial para a vida das pessoas. Ter esse reconhecimento por um trabalho realizado com pessoas que são invisíveis para a sociedade é muito importante”, afirma Rodrigo.
A Feira de Ciências do CDRL é realizada em consonância com a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, organizada anualmente pelo Ministério da Educação (MEC). A partir do tema nacional, a equipe escolar, formada por professores de diversas áreas, desenvolve categorias temáticas trabalhadas ao longo do ano letivo.
O projeto conta com o apoio da Secretaria de Justiça, da Secretaria de Educação e parcerias com universidades federais da região. Cada turma desenvolve um projeto que precisa ser aplicável ao cotidiano do cárcere ou que gere benefício concreto para a sociedade, fortalecendo o sentido social da ciência.
“Não é um projeto pontual, mas institucional, que demanda o ano inteiro para acontecer, de fevereiro a dezembro. A primeira edição, em 2021, foi pequena. Hoje, a feira mobiliza toda a escola: alunos, familiares, policiais penais e a comunidade. É um processo de pertencimento e reconstrução de identidade”, explica.
A cada edição, são apresentados entre 50 e 100 projetos científicos, com cinco selecionados para serem aplicados efetivamente no cotidiano da unidade prisional. As ações mais recentes incluem hortas agroecológicas, reaproveitamento de resíduos, projetos de energia sustentável, biodigestores e estratégias para reduzir o consumo de água, promovendo sustentabilidade e autonomia no ambiente prisional.
Segundo Rodrigo, o maior objetivo é reconstruir identidades e despertar vocações entre os estudantes privados de liberdade, para que se reconheçam como sujeitos de saber e de transformação social. “O papel da educação ali é desconstruir a visão do criminoso e reconstruir a visão do cidadão. A ciência é o caminho para isso”, resume.
O trabalho tem se tornado cada vez mais interdisciplinar, envolvendo docentes de Biologia, Sociologia, Português e Ciências da Natureza, e unindo conhecimento técnico e reflexão humanística.
Como vencedor do Prêmio Toda Matéria Professor do Ano, promovido pela plataforma com o apoio do Santander, Ciranda Cultural, Estante Virtual, Acer e da Organização Escolas Criativas, Rodrigo receberá um notebook Acer, um smartphone, um vale-viagem no valor de R$ 5.000,00, uma trilha formativa da Escolas Criativas, assinatura anual do Toda Matéria+ e kits da Ciranda Cultural e Estante Virtual.

